quarta-feira, 25 de novembro de 2015

carta de uma filha a uma mãe obesa

mãe,

aprendi a ler migalhas.
se eu pudesse, eu faria uma dieta por você, se eu pudesse, eu faria exercícios por você.
se eu pudesse, eu faria cursos de culinária saudável por você, se eu pudesse eu faria uma reprogramação da sua rotina alimentar por você.

por mais que você tente esconder, as migalhas ficam pela casa. numa tentativa infindável de conter seus rastros, tento  refazer os caminhos alimentícios, escondo as comidas, tento não comprar aquelas que engordam. mas escuto os papéis de embrulho se abrindo de dentro do seu quarto, vejo que aquele biscoito que estava no pote já não está mais.

as suas migalhas se transformam nesses pesos a mais, refletidos hoje na sua dificuldade de caminhar, nos tombos que você leva, às vezes.

eu tenho muito receio, porque sinto que você não enxerga isso como um problema. quem enxerga isso como um problema sou eu, que gostaria que meus filhos pudessem conhecer a avó,  e que gostaria de poder partilhar da sua companhia por mais tempo.

vejo que estas migalhas estão te destruindo, e eu não posso contê-las por você.
comecei a viver uma guerra que nem é minha, odeio essas migalhas, por pura empatia.
mas não posso mais limpá-las pela casa.
talvez o caminho seja as deixar, e quem sabe vc enxergue seu próprio caminho.