Um pouco do que somos diz respeito àquilo que se é esperado, e o que esperamos. Expectativas.
O script é construído todos os dias, mas o espaço do palco é limitado. Os personagens caminham por algumas linhas argumentativas, figuram figurinos, encenam pessoas.
Ao assistir Foi Carmem, de Antunes Filho, fomos para assistir o que se esperava ver. A mesma personagem que visualizamos em cenas épicas e momentâneas na TV. Para além de seu rosto, seus adornos, pala além de sua fala, aquilo que ela representa.
É o que acontece em uma das cenas, onde o ator faz uma verborragia em uma língua desconhecida, e menciona palavras como banana, nanica, samba, e soliloca alguns ritmos. É o necessário para entender que se está falando de Carmem. Em uma outra cena, ao vermos-na dançando compulsivamente a espera de um sorriso, ela joga confetes para cima, e joga, e joga. E ela só suja o palco. Encenamos o atônito, junto ao ator no palco, que a observa, sem reação.
É o poder do estranhamento, que Antunes teve a brilhante capacidade de nos trazer. Invertem-se os papéis. Em um poder metalinguístico brilhante somos Carmem, e somos platéia, e encenamos no palco o desespero da obrigação de ser alegre e representarmos esse Brasil brasileiro.
Olhar Carmem sem ver seu rosto, dançando com o corpo de costas, à semelhança curupira, numa imagem carnavalesca, sombria, desesperadora e em silêncio.
Silêncio.Ver Carmem em silêncio e com movimentos lentos.
É tudo o que não se espera da musa tatuada na calçada da fama.
Afinal, o que causa estranhamento?
O diferente? O irreverente? O fazer-aquilo-que-não-se-é-esperado?
A peça é esquisita. Decepciona.
Me lembrou de uma entrevista que Deleuze dá depois de receber uma crítica. Está naquele livro, Conversações.
"Com a ajuda do fora, faremos uma coisa tão diferente em termos de linguagem e de pensamento, que as pessoas que nos esperam serão obrigados a dizer: eles ficaram completamente loucos, ou são safados, ou foram incapazes de continuar. Decepcionar é um prazer. Nem de longe queremos nos fingir de loucos, mas enlouqueceremos à nossa maneira e na nossa hora, não precisam nos empurrar".
Decepcionemos então.
O script é construído todos os dias, mas o espaço do palco é limitado. Os personagens caminham por algumas linhas argumentativas, figuram figurinos, encenam pessoas.
Ao assistir Foi Carmem, de Antunes Filho, fomos para assistir o que se esperava ver. A mesma personagem que visualizamos em cenas épicas e momentâneas na TV. Para além de seu rosto, seus adornos, pala além de sua fala, aquilo que ela representa.
É o que acontece em uma das cenas, onde o ator faz uma verborragia em uma língua desconhecida, e menciona palavras como banana, nanica, samba, e soliloca alguns ritmos. É o necessário para entender que se está falando de Carmem. Em uma outra cena, ao vermos-na dançando compulsivamente a espera de um sorriso, ela joga confetes para cima, e joga, e joga. E ela só suja o palco. Encenamos o atônito, junto ao ator no palco, que a observa, sem reação.
É o poder do estranhamento, que Antunes teve a brilhante capacidade de nos trazer. Invertem-se os papéis. Em um poder metalinguístico brilhante somos Carmem, e somos platéia, e encenamos no palco o desespero da obrigação de ser alegre e representarmos esse Brasil brasileiro.
Olhar Carmem sem ver seu rosto, dançando com o corpo de costas, à semelhança curupira, numa imagem carnavalesca, sombria, desesperadora e em silêncio.
Silêncio.Ver Carmem em silêncio e com movimentos lentos.
É tudo o que não se espera da musa tatuada na calçada da fama.
Afinal, o que causa estranhamento?
O diferente? O irreverente? O fazer-aquilo-que-não-se-é-esperado?
A peça é esquisita. Decepciona.
Me lembrou de uma entrevista que Deleuze dá depois de receber uma crítica. Está naquele livro, Conversações.
"Com a ajuda do fora, faremos uma coisa tão diferente em termos de linguagem e de pensamento, que as pessoas que nos esperam serão obrigados a dizer: eles ficaram completamente loucos, ou são safados, ou foram incapazes de continuar. Decepcionar é um prazer. Nem de longe queremos nos fingir de loucos, mas enlouqueceremos à nossa maneira e na nossa hora, não precisam nos empurrar".
Decepcionemos então.
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