Uma das maiores belezas do devir psicólogo/analista está na capacidade de outrar-se. A cada encontro, torno-me outra coisa: impossível ser o que era, difícil saber o que se torna. O bonito é o movimento: inevitável, dolorido, abismal. Dá pra sentir o vento de cada pessoa no corpo inteiro.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
segunda-feira, 19 de maio de 2014
quarta-feira, 7 de maio de 2014
há uma espécie de lapso temporal que definem todas as coisas, onde a gente acha que encontrou alguém, e depois nos damos conta da nossa solitude. uma espécie de tentativa de fingir que não houve impacto algum, o encontro. numa tentativa desenfreada de ser um pouco mais normal. mas a verdade é que eu me encontro com você tantas vezes antes da gente se encontrar, que nem mesmo o universo seria capaz de dar conta de tantas voltas para que isso acontecesse.
segunda-feira, 28 de abril de 2014
verde
As cores eram todas inevitavelmente verdes, desde a água que escorria na pedra, até os tons das peles, que pelo frio da água tinham essa tendência de ficarem arrepiadas e ecoarem o verde ao redor.
Foi num relance, em meio a correnteza e um mergulho demorado, que ao me levantar te vi, destacado desse cenário absurdamente natural. Aquilo tudo estava em paz demais - se é que essa combinação é possível.
O tempo estava desgarrado de si mesmo, o relógio já não importa quando cai água da pedra, ininterruptamente...
A expansão do tempo, dada, alargou-se ainda mais quando olhei dentro dos teus olhos, tão castanhos quanto aquelas pedras. Foi inevitável, e nada mais seria automático a partir dali. Nem mesmo a água da cachoeira, que está fadada a cair;
até ela se desmontou.
Impressionante o quão absurdo pode parecer algo tão natural.
Foi num relance, em meio a correnteza e um mergulho demorado, que ao me levantar te vi, destacado desse cenário absurdamente natural. Aquilo tudo estava em paz demais - se é que essa combinação é possível.
O tempo estava desgarrado de si mesmo, o relógio já não importa quando cai água da pedra, ininterruptamente...
A expansão do tempo, dada, alargou-se ainda mais quando olhei dentro dos teus olhos, tão castanhos quanto aquelas pedras. Foi inevitável, e nada mais seria automático a partir dali. Nem mesmo a água da cachoeira, que está fadada a cair;
até ela se desmontou.
Impressionante o quão absurdo pode parecer algo tão natural.
domingo, 9 de março de 2014
ão
Todos os dias que sucederam o nosso encontro, foram dias que ocorreram tão somente após o nosso encontro. Como se toda a cadeia de sentidos decorridos após este evento estivessem em função desse primeiro, ou em consequência dele - elevados a potência mística de um reencontro. Uma mistura dessas denominações causa e consequência, os quais o nosso encontro teve o poder de dissolver. Antes e depois pararam de fazer efeito, como se tudo fosse uma só coisa - resumida a ter te encontrado, querer te encontrar de novo, e sentir os efeitos desse encontro.
Poucas vezes temos essa sensação de que o controle se esvaiu, com o desmonte de todos os discursos - os planos precisam ser refeitos, reinventados, dilacerados.
Dá vontade de cantar trechos de músicas, misturados, numa tentativa de compor uma canção, fazer colagens com imagens em revistas, numa tentativa de inventar alguma imagem que se assemelhe a sinestesia do nosso encontro. Na minha imaginação, misturo perfumes com novas plantas, numa tentativa desmedida de ter seu cheiro. Aprendo a plantar pra ter uma horta na casa imaginária que eu construí para nós dois. Dá vontade de pular de pára quedas numa tentativa de fazer você ecoar no ar, realizar o curso de mergulho estatizado no papel há anos, numa tentativa de soltar você pelas bolhas de ar.
Vontade de arrumar o quarto, numa ilusão intempestiva de que você o visite. Dá vontade de ser uma pessoa melhor, e pior, e ser o que quiser ser, só pra dizer pra você que eu acordei me sentindo livre ao seu lado. Vontade de fechar os olhos e refazer o nosso encontro em imagens oníricas, numa sensação que tudo aconteceu de maneira tão avassaladora, que não podia ser real, apesar de sentir os efeitos seus em mim em todos os poros que respiram. Vontade de ser coberta pelos seus buracos, suas vontades, seus medos, te consumir, fazer com que os nossos buracos ecoem. Respirar o seu ar, fazer os seus olhos encontrarem os meus.
Você me dá vontade de fazer tudo no aumentativo.
Poucas vezes temos essa sensação de que o controle se esvaiu, com o desmonte de todos os discursos - os planos precisam ser refeitos, reinventados, dilacerados.
Dá vontade de cantar trechos de músicas, misturados, numa tentativa de compor uma canção, fazer colagens com imagens em revistas, numa tentativa de inventar alguma imagem que se assemelhe a sinestesia do nosso encontro. Na minha imaginação, misturo perfumes com novas plantas, numa tentativa desmedida de ter seu cheiro. Aprendo a plantar pra ter uma horta na casa imaginária que eu construí para nós dois. Dá vontade de pular de pára quedas numa tentativa de fazer você ecoar no ar, realizar o curso de mergulho estatizado no papel há anos, numa tentativa de soltar você pelas bolhas de ar.
Vontade de arrumar o quarto, numa ilusão intempestiva de que você o visite. Dá vontade de ser uma pessoa melhor, e pior, e ser o que quiser ser, só pra dizer pra você que eu acordei me sentindo livre ao seu lado. Vontade de fechar os olhos e refazer o nosso encontro em imagens oníricas, numa sensação que tudo aconteceu de maneira tão avassaladora, que não podia ser real, apesar de sentir os efeitos seus em mim em todos os poros que respiram. Vontade de ser coberta pelos seus buracos, suas vontades, seus medos, te consumir, fazer com que os nossos buracos ecoem. Respirar o seu ar, fazer os seus olhos encontrarem os meus.
Você me dá vontade de fazer tudo no aumentativo.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
do eterno retorno
Acho que o problema em retornar, está em retomar uma vida já em movimento, como se ela existisse independente da força motriz de mim mesma; e que, no limite, poderia não existir. Buscar os sentidos das escolhas tomadas num passado, que dá voltas em si mesmo. Consequências. Voltar pra uma vida em movimento, ainda que seja a sua, é vertiginoso; como pegar um trem em movimento na estação, ainda que seja o seu, agendado, comprado, sonhado. É correr atrás daquilo que é supostamente seu, agenciado, sacramentado, fundamentado, como se as coisas tivessem uma ordem certa em meio a esse caos. Então, ao pegar esse trem em movimento, eu me faço algumas perguntas, e a primeira é a se eu tivesse o perdido, e ficado na estação. Os jargões do era pra ser, ou qualquer outro ficam sempre temerosamente esvaziados. No fundo, acredito que queria poder voltar e inventar tudo de novo, uma nova rotina, me inventar de outras formas, um clichê somado ao peso de existir. Um yng e yang das sacramentações: o jargão de que a vida é assim versus o clichê que podemos nos reinventar todos os dias. Algumas coisas são tão óbvias socialmente como namorar homens, fazer sexo com estranhos, querer casar, querer ser mulher de verdade, homem de verdade, querer, querer, querer, ter uma formação, ser bem sucedido, ser magro... Não saber o que se quer, afinal, me remete a pensar nas minhas obvieidades ainda nem pensadas, nem estruturadas. Por um lado, diante de tudo, eu gosto de trabalhar com direitos humanos ; Mas sinto que é como se eu tivesse que me render. Todos os dias eu dou minha vida a algo que eu não sei se faz sentido. Acho bonito re-significar as escolhas, e talvez eu faça isso por toda a minha jornada, por mais acertadas que possam parecer as minhas escolhas. Sou gay? Sou bi? Quero ter um relacionamento? Quero conhecer e dar a volta ao mundo? Quero fazer artes? Talvez toda pergunta carregue um sim como resposta. Mas eu tenho medo disso.
Ainda.
Ainda.
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