chegara em casa com a sensação que o máximo de vertigem que poderia ter naquele dia triste seria as tesourinhas que fizera de maneira equivocada. as voltas dadas pareciam montanha russa, onde foi possível ver a cidade de uma perspectiva um pouco torta, abaixo ou acima da linha do horizonte. mas sentia tanta raiva de tê-las feito errado, pensava. argumentava consigo mesmo, que, ao mesmo tempo sentia que era só assim que sairia da retidão brasiliense. e só assim demoraria um pouco mais pra chegar ao trabalho. pensava, inclusive, que até nas suas relações pessoais, o máximo de calor e obscenidade que podia chegar era conhecer amigos de amigos. e achou o mundo tão careta. imaginou que o máximo de lugar que poderia ir, aquele dia, era o beirute. e nessa retidão de pensamento rizomática, no limite, e na falta de opções, sentiu vontade de ligar pra uma amiga. tinha vomitado. eram sentimentos vazios, aprisionados em algum lugar de seu útero, que buscavam vazão estomacal. sentia que tinha feito algo bastante equivocado. beirando ao limite corporal: tinha sido obscena. simplesmente havia falado pra alguém que estava interessada. mesmo sem saber no que podia dar. depois de alguns poucos indícios de vontade reprimida, pela pessoa. aquela conversa de boteco: você é mó gata. buscava alguma razão nas trocas de palavras sem sentido. havia lhe dito que preferia que fossem amigos. e mês passado outro havia lhe dito: você é demais pros meus pensamentos agora. começou a sentir alguma culpa por ser ela mesma. sentia que deveria reaprender a ser passiva, e esperar o desejo do outro lhe encontrar. sentia que, no limite, podia trabalhar, pagar suas contas, comprar seu carro, ser viajada. mas na hora da paquera, teria que esperar o outro dar o sinal. começou a pensar a respeito das imagens sociais as quais são engendradas à mulher moderna, independente. pensava que às vezes sua independência soava indecente. desejar, ainda que secretamente, podia soar como inconveniente, ou como se tivesse passado dos limites do corpo. ainda não conseguia entender o que a incomodava. ou o que seria incômodo ao outro.só sabia que seu prazer era engendrado em seu próprio corpo, e não gostaria que ele tivesse submetido à autorização social de recitá-lo.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
independência e indecência
chegara em casa com a sensação que o máximo de vertigem que poderia ter naquele dia triste seria as tesourinhas que fizera de maneira equivocada. as voltas dadas pareciam montanha russa, onde foi possível ver a cidade de uma perspectiva um pouco torta, abaixo ou acima da linha do horizonte. mas sentia tanta raiva de tê-las feito errado, pensava. argumentava consigo mesmo, que, ao mesmo tempo sentia que era só assim que sairia da retidão brasiliense. e só assim demoraria um pouco mais pra chegar ao trabalho. pensava, inclusive, que até nas suas relações pessoais, o máximo de calor e obscenidade que podia chegar era conhecer amigos de amigos. e achou o mundo tão careta. imaginou que o máximo de lugar que poderia ir, aquele dia, era o beirute. e nessa retidão de pensamento rizomática, no limite, e na falta de opções, sentiu vontade de ligar pra uma amiga. tinha vomitado. eram sentimentos vazios, aprisionados em algum lugar de seu útero, que buscavam vazão estomacal. sentia que tinha feito algo bastante equivocado. beirando ao limite corporal: tinha sido obscena. simplesmente havia falado pra alguém que estava interessada. mesmo sem saber no que podia dar. depois de alguns poucos indícios de vontade reprimida, pela pessoa. aquela conversa de boteco: você é mó gata. buscava alguma razão nas trocas de palavras sem sentido. havia lhe dito que preferia que fossem amigos. e mês passado outro havia lhe dito: você é demais pros meus pensamentos agora. começou a sentir alguma culpa por ser ela mesma. sentia que deveria reaprender a ser passiva, e esperar o desejo do outro lhe encontrar. sentia que, no limite, podia trabalhar, pagar suas contas, comprar seu carro, ser viajada. mas na hora da paquera, teria que esperar o outro dar o sinal. começou a pensar a respeito das imagens sociais as quais são engendradas à mulher moderna, independente. pensava que às vezes sua independência soava indecente. desejar, ainda que secretamente, podia soar como inconveniente, ou como se tivesse passado dos limites do corpo. ainda não conseguia entender o que a incomodava. ou o que seria incômodo ao outro.só sabia que seu prazer era engendrado em seu próprio corpo, e não gostaria que ele tivesse submetido à autorização social de recitá-lo.
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