Eu digo que eu sinto falta dele.
Ele diz que ele sente falta na minha ausência. Mas que estando ausente estou sempre presente. Eu digo que com ele eu aprendi que o amor tem mais a ver com ausência do que com presença. Ele diz que não entende.Eu digo que amamos a ausência um do outro, apesar de sempre ter achado que amor tinha mais a ver com transbordamento de presença. Ele diz que não entende, e ri. Eu digo que sofro pela ausência dele, que talvez eu tenha que me ausentar de nós, porque já não é possível tanta ausência. Ele diz que espera que eu fique. E eu dizendo que vou, fico. Dizendo que fico, me imagino indo. Continuo dizendo que amo nosso amor ausente, odiando o presente da nossa relação. A distância tem dessas coisas de ilusão. A gente ama o que imagina que a pessoa faria caso ela estivesse em algum lugar desse ir e vir. Eu digo que ele nunca está. Ele diz que está sempre, eu é que não o vejo. Ou não o permito estar. Já não sei mais do que nos acusamos, se eu ali nem estou, e por não estar, o acuso porque eu fui embora. Em indo embora acabo voltando pra onde supus deixar. E quando volto ele nem soube que eu fui. Mas toda vez que eu vou embora eu acabo indo, indo pra nossa relação. A nossa relação é esse eterno ir e vir, estar lá e cá. Já não sei mais onde eu estou, onde não estou. Porque onde eu menos estou é onde mais estou. E onde ele menos está é onde ele está mais. Ele diz que por ele tá tudo bem: ele ama a presença da minha ausência. Eu odeio a ausência da presença dele. Nesse não estar estando e nesse estando só e junto, viramos um nó. Eu já não sei mais se estou só quando ele está ou se estou só quando ele não está. Já não sei se ele está ou estará. Acho que não. Ele diz que vem e nunca vem. Meu sonho é acabar com a esperança e na ausência dele não supor sua presença. Mas a esperança falha diante do amor. Sempre achei que o amor tinha mais a ver com presença. Mas acho que ele tem mais a ver com ausência.
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